sexta-feira, outubro 28, 2005

Férias e jantares!


Finalmente vou de férias! Em dias úteis são quatro, em termos comuns é uma semana, na verdade são nove dias! Volto ou no Domingo dia 6 ou na Segunda dia 7. Até lá não haverá mais posts nem updates, vão ter um merecido descanso dos disparates que me saem da cabeça.
Mantenho tambem a votação para a escolha de data para a jantarada durante toda a semana. Com base nos resultados vou marcar o dia e escolher um restaurante com preço em conta. Depois faço um post para abrir inscrições e quem quiser basta ir lá e pôr o seu nome.
Fiz aquilo que pude na promoção do jantar, mas conheço realmente pouca gente. Como já tinha dito este não é o MEU jantar, mas o NOSSO jantar, numa ideia que nasceu inclusivé noutro blog. Aqui procuro apenas andar com essa ideia para a frente e não deixar cair na rotina do “tem que se combinar...”. Como tal preciso mesmo da vossa ajuda, falem com quem conheçam que esteja interessado e venham até aqui votar. Promovam o jantar no vosso blog! A Mary já pôs um post (que vai desaparecendo com o passar dos dias) e a Cuca lançou a hipótese de entregar o prémio do 1º DID nesse jantar. A ideia é optima. É deste tipo de ajuda que preciso para dinamizar o evento, e transformá-lo em algo mesmo de todos, para todos (bloggers, leitores e amigos).Bom... camaradas, amigos, companheiros, palhaços deste circo que é a vida, vou-me! Até daqui a uns dias, já estou de malas aviadas... mesmo sem sair de Lisboa!


Que há-de ser só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós...

Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
o humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante,
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade,
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude,
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente,

Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinícius de Moraes
(E relembro-me assim que, em termos de escrita, sou completamente analfabeto...)

quinta-feira, outubro 27, 2005

"Para pôr no teu blog..."


Esta foto atravessou metade da Europa para chegar até aqui. É de uma amiga minha e fotógrafa particular, autora da célebre "Bidonga" (só para quem conhece). A música (que adoro e ia entrar na minha curta-metragem falhada) veio tambem de encomenda de Manchester. Pode-se dizer que este é o post da Ritinha, amiga emigrada, de humor venenoso e que vive em pecado nas ilhas britânicas.
Não te deixes ficar por aí mais do que o necessário.
Até ao Natal!


But I can't help the feeling I could blow through the ceilingIf I just turn and run

quarta-feira, outubro 26, 2005

Quantas vezes me tento a dissertar desconexamente sobre qualquer assunto, sobre a primeira coisa que me venha à cabeça. E quantas vezes pululam ideias sem concretização directa, nem seguimento lógico. E outros dias que por mais que se esforce não sai o mais pequeno sopro digno desse nome (e emprego o termo digno em tom muito lato). Pois bem hoje é um desses fatidicos momentos e tenho plena consciência do motivo: doi-me a cabeça! É verdade, quando se passam horas a inserir metódicamente informações no computador, a cabeça às vezes cede. É este o caso. Para além do mais vagueio já para longe daqui, num futuro próximo de jantares, férias e um bem merecido descanso. Como tal aqui fica a minha presença de hoje: doi-me a cabeça, estou a marcar duas jantaradas, uma com gente a mais e outra com gente a menos e já não penso senão nos nove dias em que vou abstrair a cabeça de tudo e dormir.


"como los olivos, sudan aceite. mi cuerpo resvala sobre tu piel"
NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR NA DATA DO JANTAR DE BLOGGERS E LEITORES DE BLOGS!
SEM ISSO É DIFICIL AVANÇAR!

terça-feira, outubro 25, 2005


Camarada bloguista boa tarde! Escrevo este post por um motivo de força maior. No dia 28 de Setembro de 2005 foi criada uma das mais promissoras e interessantes associações que alguma vez teve o prazer de ver a luz do dia: a AJBNTMNFETO (Associação de Jovens Bloguistas que Não Têm Mais Nada que Fazer que Escrever Textos Online). Esta associação sem fins lucrativos tem como presidente e sócio fundador o prezado Jota e eu próprio como forte apoiante. No entanto, e apesar dos méritos óbvios da associação, estamos a atravessar sérias dificuldades financeiras e de organização. Como tal, e de forma a dinamizar o projecto, quero organizar um jantar com todos os bloguistas que estejam interessados em pertencer à Associação ou apenas jantar! Foram feitos contactos iniciais com a ilustre Cuca, a conhecida Mary e o suave Astor que se mostraram disponiveis para participar em tal evento. Como isto nunca mais arranca vou por eu mãos à obra e tentar concretizar este projecto que já foi mencionado noutros locais. Quem estiver interessado (blogger ou leitor de blogs) deixe aqui a sua marca e ideias para data e local do evento. A minha sugestão seria na primeira quinzena de Novembro.
Jovem ajuda-nos a manter esta associação viva! Ajuda a jantarada!
Para maior divulgação deste evento quem quiser ponha um link para este post no seu blog. Vamos lá mesmo avançar com isto e não ficar apenas pelas intenções.

segunda-feira, outubro 24, 2005

O Tempo é sádico!


Ando há muito tempo a ouvir dizer que o tempo é relativo. Descobri nestas últimas semanas que afinal é mentira. O tempo não é relativo, o tempo é até bastante constante. A grande questão, o mistério por detrás de tudo é que o tempo é sádico!
Pois sim! Descoberta única e capaz de me valer até um prémio Nobel qualquer, dos muitos que são atribuidos.
Um Nobel? Ora aí está! Bem merecia... Mas qual Nobel... Hum... Literatura não seria, pelo menos por esta descoberta, Literatura só mesmo pelo blog, cuja extraordinária qualidade e o incrivel trabalho feito pela Lingua Portuguesa já bem mereciam uma distinção deste género! Medicina tambem não me parece... apesar desta descoberta ter sem dúvida alguns fins terapeuticos. Economia... hum... economia era uma hipótese, apesar de não ser uma teoria económica, o tempo está sem dúvida ligado aos negócios, não se diz que tempo é dinheiro? Fisica ou Quimica? Em qual das duas se inclui o Tempo? Na dúvida excluiem-se ambos e fico de mãos a abanar! PAZ! Tá decidido, é o Prémio Nobel da Paz! Porquê? Porque é o que sobra, e Paz é um conceito tão geral que pode englobar de tudo um pouco! É justo, (é justo?), é justo!
Então mas que teoria inovadora, que descoberta maravilhosa é esta? O tempo é sádico! Mas então sádico? Ah pois é! Desta é que ninguem estava à espera! Sádico sim senhor e com requintes de malvadez! Senão vejamos, tudo o que nos custa, em tudo o que involve sofrimento, o tempo demora-se, arrasta-se por lá a apreciar o espectáculo, passeia-se lentamente e estende (sem a mínima dúvida) a duração de qualquer evento desagradável. Pior ainda, por vezes muda de velocidade apenas para nos deixar em desespero! Quantas vezes os últimos cinco minutos de uma aula não demoraram tanto a passar como a hora e meia anterior?
E o inverso é também verdade, qualquer momento especial, qualquer saida divertida, qualquer bom filme ou conversa acabam num ápice! Sempre e sem excepção! Não é por acaso, uma vida inteira disto não pode ser por acaso. E não me digam que é um problema de percepção porque (prova científica) isto não me acontece só a mim! Aliás é uma questão transversal a todas as pessoas com quem já falei sobre o assunto! Logo, não me queiram convencer que andamos todos a percepcionar mal o tempo que passa! Como não é algo esporádico e a culpa não é nossa só resta uma hipótese: o Tempo causa estas distorções de forma metódica e sistemática, com pormenores tais que raiam a tortura... não deixa dúvida. O Tempo é sádico!E cá está, a fabulosa teoria que vai revolucionar o mundo como o conhecemos.

sexta-feira, outubro 21, 2005

E de repente parei...


... no meio das noticias banais veio uma que me fez prestar atenção - pela primeira vez o primeiro ministro admite a hipótese de, caso o pedido para novo referendo seja chumbado no Tribunal Constitucional, alterar a lei do aborto usando apenas o poder da Assembleia da Republica...

Acham que deve?

Uma casa cheia de ar...


Alguem tem dicas sobre onde encontrar mobilia diferente a preços decentes?

Life's a bitch!


“Life’s a bitch… and she’s back in heat!” – tradução directa “A vida é uma cadela e está com o cio de novo!”

A frase é brilhante, apesar de eu ser bastante tendencioso, é Carpenter no seu melhor num dos filmes mais interessantes da carreira “They Live”.

E quem diria que o mestre do terror conseguiria fazer num filme série B, com todas as qualidades e defeitos inerentes, uma reflexão sobre sobre a sociedade cega, alienada e consumista dos nossos tempos...

quinta-feira, outubro 20, 2005

Nas noticias


Ontem de tarde lá caiu o escandâlo que abriria todos os noticiários desde então: Cristiano Ronaldo, vedeta da selecção e do Manchester Utd tinha sido acusado de violação e preso para interrogatório. Não conheço o Ronaldo, não faço ideia se é culpado ou inocente, nem me vou aqui pôr a tentar adivinhar sobre o assunto, até porque realmente nem me interessa. Vedetas em sarilhos não trazem novidade e não me dariam motivo de comentário, mas num espaço de uma dúzia de horas vi três reacções que me deixaram estupefacto.
A imprensa inglesa, nomeadamente os telejornais, abriram as noticias com o caso. E enquanto os jornalistas faziam a sua reportagem iam mostrando imagens do rapaz nos jogos. Invariavelmente as imagens eram de entradas duras, ou reacções violentas do Cristiano, numa montagem que parecia querer provar que o tipo é capaz de actos agressivos e capaz de perder a cabeça, logo... É absolutamente inadmissivel que repórteres que deviam ser isentos tenham este tipo de atitude completamente reprovável!
A caminho do Yoga, enquanto esperava que a aula começasse, ouvi a conversa entre dois tipos que, pior ainda, até tinham cara de terem o minimo de educação: “Viste a cena do Cristiano Ronaldo? Pois pá, não sei se o gajo é culpado, mas lá que tem cara de quem é capaz lá isso tem!” – e pronto! Lá está, tem cara disso! Está tudo dito! O pessoal tem cara de criminoso! Agora não é preciso sequer investigação, basta olhar para a cara de alguem e vê-se logo se é ou deixa de ser culpado! Deve estar tatuado no rosto! O mais triste é que este tipo de bocas servem para destruir a vida de uma pessoa e, pior ainda, tomar decisões fundamentais! Vota-se tambem com base nestes principios “Tem cara de honesto, tem cara de competente.”, e escolhe-se quem nos governa com base no “tem pinta de boa pessoa!”
Mas a reacção que mais de deixou de boca aberta foi a de um triste que se vira para mim e diz: “É inocente de certeza! Então o Cristiano Ronaldo, que deve ter milhares de gajas à volta dele, tinha necessidade de violar alguem?” Esta teoria é brilhante! Os violadores fazem-no por não conseguirem engatar uma mulher de jeito! É portanto uma forma de masturbação mais avançada! Tudo o que seja rapazinho bonito ou com dinheiro não viola de certeza! Mas porquê? Se ele até consegue umas miudas sem as forçar... É como os rinocerontes que começam ao murro na noite, eles no fundo no fundo não têm é dinheiro para ir para um ginásio e precisam do exercicio! E ainda rematou “Não foi de certeza forçada com uma pistola a ir para o quarto dele.” Lá está! Isso prova tudo. Sempre que forem com alguem para casa, têm que ir para a cama, sexo é obrigatório! Claro, o direito a dizer não desaparece! Que iria uma rapariga fazer ao quarto se não fosse para isso? E mesmo que tenha sido violada, até se percebe! Se ela não queria não subia! Tá mais que justificado, a culpa agora ainda é da miuda!

Sinceramente, há cada besta neste mundo...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Casca de noz...


Certa noite de Verão conheci uma pessoa numa esplanada no Chiado, entre uma bica e um chá para aquecer as mãos. Em conversa descobrimos ter um amigo comum, facto curioso e divertido, visto esse amigo não ter nada a ver com o nosso encontro e cada um de nós o conhecer de sitios absolutamente diferentes.
Há dias liguei a uma amiga para lhe dar os parabens pelo aniversário. Falei-lhe sobre essa pessoa do Chiado. Sorte cega, conheciam-se perfeitamente e já há muitos anos. Uma vez mais o sitio de onde se conhecem nada tem a ver com o sitio de onde eu conheço uma ou outra, e nada a ver com o primeiro amigo. Temos três pessoas que se conhecem através de cinco sitios diferentes, individualmente, sem nunca se cruzarem as três ao mesmo tempo, que passaram muitos anos sem fazerem a ligação dos pontos, e é apenas um exemplo a uma pequena escala. Casos destes têm-se sucedido comigo regularmente. Vizinhos e colegas no emprego, ex-namoradas e colegas de faculdade, companheiras bloggers (!) e colegas do CCB...
Frase cliché mas... o mundo é mesmo uma casca de noz! Faz pensar que razão tinha Frigyes Karinthy quando dizia que cada um de nós está ligado a cada pessoa no planeta por não mais que seis intermediários, a teoria dos seis graus de separação.
Já estou a divagar, mas são pelo menos coincidências com piada para quem as vive...

terça-feira, outubro 18, 2005

I send this smile over to you...











Disarm you with a smile...


A causa de todo o sofrimento é a ignorância...


E nas paredes tinha gravado "Festina Lente"... apressa-te devagar...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Os irmãos de Alice


Segunda feira… bom dia para fazer o movie-update da semana. Desta vez estão em destaque dois filmes. “Alice” de Marcos Martins e “The Brothers Grimm” de Terry Gilliam.
Alice é a primeira longa metragem de um realizador que veio do mundo da publicidade e teve aqui uma estreia com enorme ressonância. Mário e Luisa são dois jovens pais cuja filha desapareceu. No meio da dor e desesperança, Mario recusa-se a desistir e mantem uma busca impossivel pela cidade de Lisboa. Nuno Lopes encabeça este elenco com um papel esforçado e a maior parte das vezes bem conseguido, apesar de estar a milhas de sub-aproveitada Beatriz Batarda. Marco Martins consegue atingir uma corda emocional e transpor para o ecrã as emoções mais cruas de quem sente um vazio inconsolável de uma perda imensa. Mas apesar de uma fotografia interessante e uma banda sonora claustrofóbica, Martins falha no desenvolvimento de uma narrativa minimamente consistente. O filme é inconsequente após um inicio promissor. Os personagens não evoluem e são redundantes, à exepção de Mario. A interacção com toda a gente é absolutamente indiferente, e temos a nitida sensação que tudo estaria na mesma se essas cenas fossem pura e simplesmente cortadas. O filme arrasta-se para o final, sem uma linha condutora, sem uma ideia forte, sem saber o que fazer da situação que criou de uma forma bastante emocional. Marco Martins parece demasiado preocupado em criar imagens visualmente bonitas e ambientes plácidos, sem conseguir sair dessa ratoeira. Precisa claramente de um bom escritor para superar a lacuna de um argumento fraco, que para além do mais se torna em alguns momentos bastante inverosimil.“The Brothers Grimm” é a ultima obra de Terry Gilliam. Este ex-Monty Python constroi uma fábula incrivel à volta da vida dos Irmãos Grimm, autores de alguns dos contos populares mais famosos de sempre, desde o Capuchinho Vermelho até Rapunzel. Nesta versão os irmãos são farsantes, que ganham a vida de credulidade das gentes das aldeias, caçando supostos monstros e bruxas na alemanha ocupada do século XVIII. Tudo se complica quando se deparam com uma floresta que está verdadeiramente amaldiçoada. A fita tem todas as personagens da nossa infância, bruxas, rainhas malditas, Haensel e Gretel, lobos maus e feitiços para todos os gostos, mas visto pelo olhar do louco Gilliam. Um conto incrivel, com humor que baste, mas com um toque de demência controlada a que o realizador já nos habituou. Uma agradável surpresa não tanto para miudos mas principalmente para aqueles que sempre conheceram as histórias originais.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Desafio: inventar uma história com as palavras de outros blogs... foi isto que saiu...


Queria escrever pá! Porquê? Para parar para perceber! É que há dias fodidos, um tipo tem uma sensação de inadequação, como quem anda à deriva... sabes que nem tudo o que tem guelras está dentro de água! Não ligues, são os efeitos do alcool. Fui sair, só queria ir onde pudesse conversar. Ouvir a opinião de alguém, sobre alguma coisa, em algum momento. Fui a um sitio com musica demasiado alta. Tinha fome, pedi peixinhos da horta. Tavam péssimos. Protestei: Isto é serviço que se apresente? Responderam-me algo estúpido como: A culpa é do sistema! Apeteceu-me dizer: Desculpe estou sem cérebro! Mas calei-me. Olhe sirva-me antes um Jameson. Fiz um brinde a pessoas especiais e reparei em alguém que mandava um sorriso para mim. Para quem gosta de sonhar, estes pequenos nadas são um mar de sonhos! Avancei suave como Astor, porque Astor tem cuatro estaciones, e parei a 15 cm do sofá. Pus-lhe questões musicais ela respondeu coisa e tal. Perguntei de novo “Não tens opiniões sobre isso?” E ela “Yada, yada, yada!” Como não entendi nada disse-lhe “Levanta-te e GRITA!” e ela “You got to be your own dog!” – Era inglesa e nem tinha percebido! Não sei se há vento no mar ou o que se passou, mas dei uma queda quotidiana ali mesmo. Ela riu-se e enquanto se afastava deixou estas palavras: So you are human just like the others! Senti-me como um miudo envergonhado agarrado ao balão do João. Resolvi ir embora destroçado com os sonhos que andamos a ter... Mas sabes que há pequenos nadas que... Há saída encontrei uma rapariga aos berros “Apanhem o patife que...” e parou a chorar. Aproximei-me dela com imensas perguntas e ela”Pára! Não me interrogues! Diz...conversando...” Perguntei-lhe o que se tinha passado. Ela disse “Agora já posso responder..” – Tinham-lhe roubado a mala. “O mundo acabou!” suspirava. Tentei confortá-la “Calma, o mundo nunca parou, portanto não é agora que vamos iniciá-lo” Perguntei-lhe para onde ia. Disse-me que ia “Onde se fala ouve grita suspira sente. Onde somos seres humanos. Onde queremos viver. Onde queremos ser felizes!” Acompanhei-a a casa. Pareceu-me precisar de um ombro amigo. Quis dar continuidade à conversa. Falámos sobre tudo – Deus Séc XXI, a democacia, até que chegámos. Perguntei-lhe “Vai para que andar?” Ela apenas retorquiu “Amo a doida que há em mim!” Era a despedida. Conclui “A amizade é uma grande festa!” – “Bonito isso...” – “Li num livro...”
Voltei para casa e comecei o blog, queria marcar o meu estados de espirito, absurdices. Manter as conversas em .doc Espero não manter por muito tempo o blog em update. Foi uma noite de desilusão? Não... foram sopros d’improviso e temos que estar sempre prontos para onde a brisa nos levar...

quinta-feira, outubro 13, 2005

Sopros soltos 5...


Reparei agora! Estou online e internacional! Primeiro da lista... Ehehehe....

Sopros soltos 4...


Deixaram apenas o tempo escorrer entre eles, sem um fim específico, sem um propósito claro, sorvendo lentamente pequenas gotas de saudade...

Sopros soltos 3...


Frase exclamativa de uma tipa ao entrar no gabinete onde trabalho que está carregado de posters: "Eh pá aquele filme é uma merda! Que estupidez!" - "Qual?" - "O Million Dollar Baby!"

Sopros soltos 2...


"They say, when you meet the love of your life, time stops, and that's true. What they don't tell you is that when it starts again, it moves extra fast to catch up."

Sopros soltos...


Há mais de uma semana que não vou ao cinema... começo a sentir uma certa nostalgia da velha sala escura...

quarta-feira, outubro 12, 2005

O ataque do pó!


Ontem lá fui! Armado até aos dentes com todos os produtos de limpeza necessários, cheio de coragem e com a confiança de quem não sabia no que se ia meter! Eramos três... ela só uma... De certeza que tinhamos a situação controlada... Era dia da primeira limpeza profunda da casa!Chegámos de manhã, arrumámos as coisas e dividimos tarefas. Eu ficava encarregue do pó. Nada mais simples pensei, numa hora despacho o assunto! Oh doce ilusão, oh triste sina a minha! Só o quarto de vestir ocupou a manhã quase toda! Cada canto, cada gaveta e encaixe estavam absolutamente ocupados pelo pó! Tirei prateleiras e acessórios, nada foi deixado ao acaso, escadote para os locais inacessiveis e uma força de vontade inabalável. No fim estava orgulhoso de mim mesmo. Tinha vencido! Até que passei a mão... O horror! A tragédia! Parecia que estava na mesma! Usando uma inqualificável táctica de guerrilha, a sujidade tinha voltado para o sitio onde eu tinha acabado de limpar! Derrotado? NUNCA! Às armas camaradas! Que a luta continua, a vitória é certa e quem ri por último ri melhor!Segunda ronda e pouco depois o closet estava decente. Quase no fim julguei. A casa não está mobiliada e portanto não há onde o pó se esconder. ERRO! As portas! Meu Deus as portas! Verdadeiros campos de treino e ninhos de procriação onde o pó se esconde! Cada recanto, cada reentrância, o topo e os lados... ele avançava implacável! Há que ter força! Marche! É claro que o adversário era digno, principalmente com um pé direito de 3 metros e tal de altura! Mas nada que não se aguente.Next, a varanda! Aí comecei a achar que o mundo conspirava contra mim... Os desgraçados dos vizinhos têm o prédio em obras e o entulho passa para o meu lado. Luta inglória? Talvez, mas são essas as mais saborosas.Só faltava o chão... Mas... mas esperá lá... o que é aquilo? RODAPÉS!!!! Enormes! Com sujidade capaz de encher um caixão! Lá me pus de joelhos a rastejar pela casa toda, não havia maneira. Doia-me tudo, já tinha andado a comprar material necessário, a acartar com pesos 4 andares para cima e para baixo, a tratar da máquina da loiça, a arrumar coisas, e este combate parecia perdido! Comecei a tossir, os pulmões estavam prestes a rebentar. Tinha começado a minha epopeia havia sete horas até que... a tecnologia avançou! Aspirador ao ataque! Cada canto, cada rebordo, o chão inteiro! O pó dava-se por vencido, ouvia-se o seu grito no trepor de morte! Finalmente... ao fim de 8 horas de trabalho a casa começou a ter um aspecto decente... Apesar de ainda faltar espanar as paredes, limpar os vidros e dar mais um ataque (constante) ao pozito...Enfim... era para ir ao ginásio mas só me apetecia cama...

segunda-feira, outubro 10, 2005

O estrume


E passaram! Como se esperava os candidatos independentes às câmaras municipais venceram e com larga margem. Normalmente este seria um sinal de maturidade democrática, onde movimentos populares não originários nos partidos tomariam forma e dariam expressão aos desejos e anseios do povo, sem o espartilho da máquina partidária. O problema é que todos os independentes são renegados dos berços que lhes deram vida, e não por divergências programáticas, mas por não possuirem as condições minimas de ética e legitimidade para se candidatarem. Os nossos eleitos são os nossos representantes e, como tal, têm que estar acima de qualquer suspeita. Nos casos de ontem, não só são conhecidos demagógicos populistas com sérias dúvidas acerca da sua moralidade pessoal, como estão a braços com a justiça, com acusões bastante graves, que põem directamente em causa a capacidade de assumir um cargo público. Mas o voto deu-lhes a vitória. O preocupante é o motivo. Venceram as eleições não porque as pessoas acreditem que estão inocentes e injustamente acusados, mas porque as pessoas pura e simplesmente não querem saber! A lógica que diz "todos roubam mas este ao menos apresenta obra" é um sinal preocupante do estado da democracia em Portugal. O discurso vigente que acha que a corrupção é normal e aceitável, que a moralidade e os valores mais básicos não têm peso, que todos os politicos são farinha do mesmo saco, que o voto é de alguma forma indiferente, é o estrume onde germinam as ditaduras, é um sinal preocupante da vivência democrática nacional. Aliado a isto temos a quase deificação de alguns candidatos (vide as frases em Felgueiras ditas pelas pessoas na rua "É a nossa santinha!", "É a mãe de todos nós!") que transforma estes personagens em seres deveras perigosos. Felizmente estes pequenos vice-reis do seu burgo (onde Alberto João é referência primeira) ainda são apenas fenómenos de caciquismo local. Mas temo que seja uma questão de tempo até aparecer uma versão nacional de abutres da politica com este perfil.
Há que ter atenção ao desenvolvimento destes fenómenos, há que ter atenção à descrença no sistema democrático, muitas das ditaduras do último século tiveram origem no voto popular (como o caso alemão), há que não ter a ilusão que o estado das coisas não se altera...
Citando SG: "A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros." e é preciso lutar por ela.

sábado, outubro 08, 2005

Noite de desilusão?


Ontem lá fui, carregado de materiais e ilusões, pronto para filmar a minha primeira curta. Sem meios técnicos, nem câmara decente, nem microfone, nem cenário, mas com o texto escrito e a inequívoca certeza daquilo que queria. O que me traiu não foi nenhum destes factores, mas sim o actor que escolhi para concretizar o meu projecto... eu! Erro de casting tremendo, não só fisicamente sou completamente errado para o personagem, como não tenho um décimo do talento necessário para aguentar um monólogo de dez minutos. Regressa o projecto ao papel, até arranjar quem tenho estofo para o fazer... Foi uma experiência de aprendizagem, o melhor é manter-me como escritor e quiçá um dia realizador, que cada qual de acordo com as suas capacidades... E mudou o rumo ao serão...
Há noites assim, planeia-se, organiza-se e de repente ela faz-nos o pino no meio da poeira e põe-nos a cabeça a andar à roda, num amanhecer inesperado por entre dores e sorrisos...

sexta-feira, outubro 07, 2005

O orgulho é o clitóris da alma...


... e como tal precisa ser estimulado. Mas se pode ser bom seres tu a fazê-lo, é muito melhor quando é bem feito por outros!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Quem querias conhecer?


Há uns dias ia tomar um copo com uma amiga e a ouvir o último cd de Goldfrapp. Ela disse-me que admirava a Alison Goldfrapp (vocalista do duo inglês) e que a achava uma pessoa completa. Não só talentosa, mas bonita, misteriosa, alguem que valia a pena conhecer.
Pus-me a pensar na diferença entre talento e a vontade de conhecer alguem. Isto é... pode-se olhar para uma pessoa de trinta maneiras diferentes. Lembrei-me de uma passagem de um filme onde uma rapariga pergunta às amigas: "Com quem gostavas de estar? Com o Denzel (Washington) ou com o Wesley (Snipes)?" resposta em uníssono "Denzel!" - "E com quem gostavas de passar a noite?" - "Wesley!!!"

Pus-me a divagagar (mal dos dias em que se tem pouco que fazer) em quem , das pessoas famosas que admiro, gostaria de conhecer pessoalmente, mesmo que não fossem famosos:

O tipo da foto (alguem me diz quem é?)
Tim Burton - a mente que produz aquilo só pode ser interessante
Michael Stype - um tipo que muito admiro, não só pelo seu talento mas pela sua postura social e politica
Christina Ricci - obviamente uma inadaptada
Cate Blanchett - não sei porquê tenho um fascinio pela senhora
Kate Winslet - parece-me uma tipa cheia de força e descomplexada em relação a si própria...
Johnny Depp - óbvio...
Slava (palhaço russo creio) - um criador daqueles só pode albergar uma alma gigantesca
Pessoa - decerto me abriria mundos para além dos mundos...
Kafka - o homem tinha problemas, muitos problemas, e conhecer a mente por detrás dos textos devia ser fascinante
Marylin Manson - é muito mais do que aparenta, muito mais que a pseudo-treta satânica...
Che - que dizer? Sentar-me e ouvir... apenas ouvir...
J.C. - a pessoa que mais mudou o mundo de certeza que tem algo de interessante para dizer ao vivo (mesmo não sendo crente)
Isto para dizer uma infima parte de todos...

Há no entanto outros tipos que admiro mas que se não fossem famosos não me despertavam a minima curiosidade (agora vão alguns exemplos de seguida só para ilustrar:
Scorsese (adoraria falar sobre os filmes mas...), Nicole Kidman (linda e excelente actriz, mas um pouco pretensiosa e arrogante), Russel Crowe, Dali, Saramago... só para nomear alguns.

A questão não é quem admiro, a questão é quem é que quereria ter lá em casa para jantar se os não conhecesse de lado nenhum...

E vocês? Quem gostariam de ter no vosso grupo de amigos?

quarta-feira, outubro 05, 2005

Repugnante!


Ontem tinha uma noite planeada de filmagens, mas acabou por ser uma bem diferente... de copos! No Bairro vários foram os pontos de passagem, os degraus de descanso e as pessoas encontradas. A conversa corria, nem sempre com nexo, mas constantemente divertida, digamos que o nivel de álcool nem permitiria outra coisa. Passagem pela cachupa (está aberta apesar de rumores em contrário que me chegaram aos ouvidos), conversa metida com outros elementos da noite, algum riso e até uma pequena dissertação à beira da estátua do Pessoa sobre o tema hetero/homossexualidade com uma rapariga de Peniche, nitidamente com uns copos a mais, os pés mais sujos que já vi e a frase exlclamativa "Ai meu Deus nunca tinha estado tão perto de um!!". Sinceramente só estando lá para ver, mas deu para mais uma ou duas gargalhadas. Destino seguinte: Oparte. Nunca lá estive, mas ouvi dizer bem, e havia lá mais pessoas para encontrar. Eram 5h30 da manhã e os 10€ de entrada foram o suficiente para nos fazer mudar de ideias. O dinheiro escasseia e a noite já tinha sido cara! De regresso ao carro passámos pelo Buddha Bar e pensámos em tentar entrar (mais uma estreia) caso não pedissem consumo mínimo. Nesse momento um puto, que não tinha mais de 17 anos, magrinho e com um ar franzino, saía acompanhado da namorada. Levava o copo distraidamente na mão e quando lhe chamaram a atenção para o facto voltou para trás para o pousar. Nesse momento um dos gorilas do sítio, uma besta que devia ser presa por uma trela começou a provocar o rapaz, a insultá-lo. E o miudo, ainda sem experiência nenhuma e a boca solta respondeu "Mas já devolvi, também não precisas de te armar em parvo!" Foi o pretexto que o animal queria, começou a espancar o puto sem apelo nem agravo enquanto o agarrava pela camisa. Eu e os dois amigos com quem estava ainda dissémos "Tenha lá calma, deixe lá o miudo, pronto já chega!", mas nada fizémos. Um monstro destes, capaz de atacar sem nexo nem barreiras alguem com metade do seu peso e um décimo da sua força, mete-me nojo! É absolutamente repugnante e deviam-lhe largar os cães em cima sem apelo nem agravo. O Buddha Bar passou a ser um sítio onde me recuso a pôr os pés depois de ter assistido áquilo. E o mais grave é que é a norma na noite de Lisboa. Cavalos impotentes que descarregam as suas frustrações em pessoas que não têm culpa das bestas quadradas que foram cuspidas neste mundo.
O que me repugna é também a inacção de quem assitiu a tudo, ou seja a nossa inacção. Não me mexi, não levantei um braço para ajudar o rapaz. Posso racionalizar o que quiser. Dizer que o tipo me desfazia, que não conhecia o miudo de lado nenhum, que se nós os três avançássemos os outros cinco gorilas que ali estavam e se riam da situação nos mandavam para o hospital. Posso justificar o que quiser. A verdade é que não nos mexemos e estávamos a meio metro daquilo. E a nossa cobardia é indesculpável...

terça-feira, outubro 04, 2005

Está pronta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Finalmente! Quatro meses e dois dias depois a minha casa está pronta! Quer dizer... pronta pronta não estará... Há um pequeno pormenor na janela da cozinha que só vai ser tratado daqui a duas semanas, preciso de limpar a casa toda que está um nojo e mobilá-la... Mas que se lixe! Está pronta e prestes a ser ocupada. Não definitivamente, que a liquidez financeira não permite, mas uma transição gradual durante os próximos meses e (espera-se) em Abril próximo mudo-me de vez! Mas o importante é que está pronta, está lá e é minha!!!!
A casa está aberta a todos! Para os que querem conhecer, tomar café, pernoitar, passar umas férias em Lisboa, para as conversas e para o resto. É só telefonar. Quero ter aquilo cheio de gente e regularmente. Podem usar e abusar, que nunca tiva papas na lingua e quando estiverem a pisar o risco ponho-vos a andar sem problemas. Num próximo post devo publicar fotografias para quem não conhece.
Quarto andar sem elevador, na minha cidade, na cidade antiga, carregada de história, de vida, de uma mescla de gente e culturas, que pulsa energia em cada esquina. Ao lado do Terreiro do Paço, a duas ruas da Rua Augusta, a cinco minutos a pé do Rossio, do Chiado e a seis do Bairro Alto, é um refúgio para mim e para os meus. Sejam bem-vindos.

segunda-feira, outubro 03, 2005

O dia do eclipse


Hoje acordei cedo, era o dia do eclipse! Maravilha das maravilhas, nunca vista em Portugal nas últimas décadas. Saí de casa carregado de expectativa, mas antes de chegar ao carro um canguru saltitante apareceu-me à frente e apertou-me a mão. Tinha força o desgraçado e quis ficar à conversa sem me soltar. Falou-me do tempo, da vida, e da filha que apesar de ainda andar na bolsa já estava à espera de cria. Quando me deixou a mão doia-me. Fui para o carro e tentei conduzir, mas as dores não ajudavam. Farta da minha lentidão e inépcia, o meu carro (que é uma mulher e chama-se Fábia) resolveu tomar o destino nas suas mãos e conduziu-me pelas ruas da cidade. Que caminhos eram aqueles que nunca conheci? As palavras de intervenção estavam escritas nas paredes, as mulheres e os homens dançavam ao som de música que eu não ouvia. Pensei, o mundo endoideceu e vou chegar atrasado! Parei à beira de um jardim sem árvores, nem relva, nem arbustos, nem flores, mas era um jardim, e o mais belo que já vi. As pessoas passeavam em extâse com um perfume que não conheciam e na verdade não podiam sentir. Ali me deixei ficar absorto a sonhar com a janela de minha casa. Da janela da minha casa nada se vê porque tem um muro de andaime que tudo tapa. Saltei para lá e subi até onde conseguia, olhei em baixo a cidade de gente que se acotovela e atropela numa busca vã de algo que não encontra. Todos à exepção de uma rapariga de olhos escuros e sorriso largo que olhava para mim ao longe e me acenava. Ela saltava descalça pelos muros e paredes sussurando-me segredos que nunca concretizou e planos secretos que me fizeram sentir. Sentir o quê? Não sei, apenas sentir, que já é um estado melhor que não sentir. O Não-Sentir é o vazio da alma, é a morte que se aproxima. E eu sentia. O Sol piscou-me o olho, como um desenho animado e percebi que era tarde. Olhei para o meu destino e vi que lá chegava com duas passadas! Enchi-me de coragem e saltei mas de repente ficou escuro como o breu e vazio como o infinito. Fiquei perdido e desorientado, senti-me cair desamparado mas nunca mais sentia o chão. Na verdade o escuro era tal que até o chão perdeu a noção do seu sítio, do seu lugar, e dei por mim a flutuar ao lado dele. Baixo era cima e esquerda era direita. Não sabia se fazia o pino ou se estava sentado de cócoras. Foi aí que a Lua saiu de frente do Sol e tudo, de repente, se endireitou nas posições devidas. Dei por mim estatelado no cimento. A rapariga olhava agora para mim empoleirada nos andaimes dos quais eu tinha caido. Estava presa por uma mão e rodopiava feliz. Eu queria falar com ela, mas um relógio gigante com azia atropelou-me e prendeu-me com o ponteiro dos minutos. Avançou como o vento por entre os carros que não se desviavam apesar dos meus gritos. Pensei realmente que ia morrer. E enquanto isso o relógio só me falava de projectos, de futuro, de responsabilidade, dívidas e hipotecas. Largou-me sem apelo nem agravo à porta do escritório. Limpei a poeira de mim, que caia no chão com pequeninos gritos estridentes. Entrei hesitante. As portas abriram-se com os seus dentes afiados e, por momentos, julguei que me iam morder. Passei incólume e subi ao oitavo andar. Sentei-me em frente ao computador. O eclipse já passou, as paredes estão no sitio e está tudo na mesma.
É segunda-feira e não há nada para contar.
Espero que, quando sair daqui, a rapariga de olhos escuros e sorriso largo ainda esteja dançando à minha espera...

sábado, outubro 01, 2005

Proposta de uma vida!


Estava ainda ontem a falar com um amigo meu quando me apercebi. Pela primeira vez na vida tenho valor financeiro. Não é na conta, que tem um saldo negativo logo no dia de pagamento, mas tenho um carrito (pequenino mas anda) e uma casa na Baixa. Mais, a casa está toda em divida, o que me coloca no ponto certo para dar o golpe, nomeadamente para os meus pais reaverem o dinheiro que gastaram em mim. Caso eu tivesse um "acidente" eles herdavam a casa totalmente paga... Mas isto tinha que ser agora, que ainda sou solteiro e "bom rapaz", porque se arranjo uma lunática que me ature... lá se vai a herança para ela. O meu amigo propôs-se logo a atirar-me de uma janela em troco de 10% do valor da magra herança. Ia falar disto aos meus pais quando ele me disse: "Mas se te atirares tu da janela eu dou-te 2%!"
Eh pá! Isto é capaz de ser negócio! Eu ando mesmo mal de massas e assim toda a gente ficava feliz. Os meus pais recebiam algum troco de 26 anos de despesas, o meu amigo ficava com 8% por organizar a minha morte e eu ainda tinha 2%. Assim conseguia pôr a conta bancária em ordem. Mas depois pensei... e o funeral? As despesas são enormes e esta história de cair não sei quantos andares para a minha parte ficar para o cangalheiro não me parece nada bem. Mas não sei se estavam dispostos a dar-me mais de 2%... é um problema... É claro que aí a minha prestação da casa desaparece! E isso dá-me logo uma folga gigantesca no orçamento mensal! Sem dúvida vale a pena. Hum... mas lá está, eu acho que a Lusomundo, e já agora a PT em geral, tem um tratamento discriminatório em relação a mortos, na verdade não conheço lá nenhum a trabalhar! Isto é incrivel, com uma brincadeira destas arrisco-me a perder o emprego e ninguem me pode ajudar. Bom... empregos há muitos e qualquer coisa se arranja... estamos no século XXI, esse tipo de preconceito já nem se usa! Mas mesmo assim... podia passar uns meses sem nada e só 2%... Já sei! Falo directamente com os meus pais e passo a perna ao meu amigo. Atiro-me da janela em troco de apenas 9%! Assim eles ficam a ganhar, pagam menos 1% e eu ganho mais 7% do que estava à espera! BOA! De certeza que com esse valor ainda me aguento uns tempitos enquanto procuro novo emprego. Mas nada me diz que eles depois de eu estar morto me dão os 9%... Quer dizer... eles são meus pais e até hoje nunca me enganaram, muito pelo contrário! Mas depois de morto tudo muda, as pessoas começam a lidar contigo de forma diferente, mal te dirigem a palavra, passam por ti como se não te conhecessem e algumas mal te vêm começam a fugir aos berros. Bom, se eles não me quiserem enganar aceitam assinar um papel, enquanto eu estou vivo, a garantir o pagamento dos 9%. Um tipo tem que ter cuidado, porque depois de morreres perdes um bocado o controlo à tua vida e nos tempos que correm... nunca fiando! Apesar de um papel desses poder lixar o seguro e aí o negócio ia todo por água a baixo. Hum... não sei... vou ter que pensar melhor, mas lá que é um negócio promissor lá isso é!!