quinta-feira, agosto 31, 2006

Miami Vice

Há quem considere Michael Mann como um dos grandes realizadores da sua geração, e se bem que filmes como O Informador tenham uma marca de excelência indiscutivel, outros como Heat - Cidade Sobre Pressão, Ali ou Colateral, apesar de interessantes, não trazem nada de novo.
Miami Vice é o último filme de Mann, baseado numa famosa série dos anos 80 que é agora transcrita para o grande ecrã.
A primeira questão que se coloca é qual o motivo para chamar a este filme Miami Vice? Para além da existência de um policia negro e outro branco (com os nomes similares aos da série), na verdade nada mais liga o filme e a série, nem o tom (que é aqui consideravelmente mais negro) nem sequer o tipo de história, que envolve tráfico de droga internacional e nada tem a ver com a brigada de Costumes de Miami.
Mas adiante... Michael Mann fez o seu filme típico, longo, bem filmado (sempre em 2:35), tenso, mas cheio de falhas. Jamie Foxx é completamente desaproveitado, Colin Farrel não desilude mas sem deslumbrar, e apenas Gong Li sobe verdadeiramente acima da média.
O argumento está cheio de buracos e de incongruências que impedem o filme de ser levado a sério, mas que não impossibilitam o seu visionamento.
Merece o tempo que se gasta, mas não garanto que mereça o preço do bilhete.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Reservoir Dogs


Em 1992 estreia a primeira longa metragem de um jovem realizador americano Quentin Tarantino. O titulo: Reservoir Dogs - Cães Danados, e tomou o mundo de assalto.
Um conto teatral sobre um grupo de bandidos que planeia um assalto.
O seu ritmo acelerado, o uso estilizado da violência, o argumento inesperado, com uma montagem muito inteligente, um sentido de humor aguçado e os diálogos absolutamente delirantes (que se tornaram imagem de marca de Tarantino), este filme, juntamente com Pulp Fiction, transformou o realizador num pop-icon quase instantaneamente.
Das cenas mais marcantes do filme - a famosa cena da orelha - fica esta música leve e bem disposta, que pauta uma acção profundamente violenta de tortura, e que é uma dicotomia recorrente em Tarantino, a comédia e o sangue.

Deixo-vos com: Stuck In The Middle With You

terça-feira, agosto 29, 2006

Novo personagem nas lides dos pedintes subterrâneos a entoar as suas mágoas a um público indiferente: Senhôrannn e senhorêêêsss, disculpá moléstia por fávor..... Sou uma pobre refugiada da Bósni, Sáraiév... Nã tenhu casa, nã tenh dinhêro, não tenh nade...
E assim continua pedindo uma moedinha. Todos os dias retoma a mesma lengalenga, mas não se limita a repetir as palavras, entoação e tom. Ela realmente canta, com um bébé ao colo, levanta a cabeça como se fosse a Amália, coloca uns olhos terrivelmente suplicantes e canta.
Hoje houve novidade, mal começou foi acompanhada por uma segunda voz, bem mais fina e inocente, que fez com ela parelha, uma criança que não tinha mais de sete ou oito anos reproduzia letra por letra, nota por nota, a ladaínha suplicante, nuns jograis macabros, sem direito a aplauso, mas com direito a cachet.

segunda-feira, agosto 28, 2006


Na Baixa, na rotina da entrada para o Metro, três polícias manchavam a massa cinzenta de gente que por ali passava. Um pouco mais abaixo outros três, e na plataforma completava-se o trio de ternos.
No Marquês muda-se de ares, a azul e a amarela cruzam-se para poder seguir caminho. Aí aguardava um par de agentes, e mais adiante outra dupla e uma quadra de enfado mais ao lado.
Destino final Entrecampos. A História repete-se, e aqui a estória repetiu-se, seis polícias à saida do comboio, um solitário após a passadeira rolante, mais um casal no cimo da escadas e um outro par à saída. A presença de tanto agente da autoridade intrigou-me, quando instiguei um deles respondeu-me a redundância: é uma operação policial.
Recado dado e ignorância mantida, mas a curiosidade, como sempre, espicaçada: que raio se estará a passar hoje na rede de metro?

sexta-feira, agosto 25, 2006

E Plutão?


(Plutão e Charon)

A primeira definição de planeta que alguma vez existiu foi a de “estrelas” que se mexiam de constelação para constelação. Copérnico mostrou que os planetas e a Terra orbitavam em torno do Sol, começou-se a supor que os planetas fossem “Terras” e o telescópio de Galileu provou que na verdade os planetas eram esféricos. Em 1801 foi descoberto Ceres, um “planeta” redondo, que por causa do seu tamanha demasiado pequeno passou a ser definido por asteróide. Em 1930 foi descoberto Plutão, a sua estimativa de tamanho foi exagerada e foi declarado planeta. Na verdade é minúsculo, cabem 3,5 “plutões” dentro da nossa Lua. A discussão seguiu-se: deveria ser ou não considerado um planeta? Até que há pouco tempo se descobriu um objecto chamado 2003 UB313, bastante maior que Plutão. A questão levantou-se, seria um planeta? E outros objectos apenas infinitesimalmente menores que Plutão?

O que é um planeta?

A União Astronómica Internacional pronunciou-se este mês sobre a questão. A primeira proposta de definição que arranjaram foi um corpo que tivesse gravidade suficiente para se transformar numa esfera, que tenha mais que 800 km de largo e que orbite uma estrela em vez de outro planeta. Foi feita uma excepção para os sistemas binários de planetas (dois planetas que orbitassem em torno um o outro).
Esta definição fazia com que Plutão fosse um planeta, mas transformava o sistema solar num sistema com 12 planetas e não 9, e levantava dúvidas sobre mais uns quantos objectos.
Alguns problemas surgiram. E se um objecto tiver 799 km de diâmetro? Existem diversos objectos quase esféricos, mas não totalmente, aliás alguns dos planetas gigantes são bastante mais largos no seu equador. Quão esféricos teriam de ser? Um objecto de gelo por exemplo é mais facilmente redondo que outro de rocha, independentemente da sua órbita ou massa. Seria esta definição justa? Existem na verdade uma dúzia de objectos que quase têm esta definição. Que fazer?

(Os quase planetas)

Existem ainda diversas luas que têm massa maior que Plutão, actividade geológica (que Plutão não possui) e até atmosfera. A única questão é que orbitam planetas, se orbitassem uma estrela não haveria dúvida. O problema aqui levanta-se sobre o que é isso de orbitar outro planeta e quando é que se considera um sistema binário. Na verdade a Lua não orbita apenas à volta da Terra, a Terra também se movimenta, balanceia com o passar da Lua. Isto acontece sempre até as estrelas sentem a influência gravitacional dos planetas. Dois objectos movem-se sempre em torno de um centro de massa conjunto (em inglês barycenter, não sei a definição portuguesa). Se esse centro de massa for exterior a qualquer dos dois objectos então consideram-se ambos planetas num sistema binário. Entre a Terra e a Lua o barycenter está debaixo da crosta terrestre, portanto a Lua é uma lua (gira em torno da Terra). Mas se a Lua se afastasse da Terra o barycenter afastava-se também. Logo, após certa distância ficaria entre os dois planetas. Logo a Lua seria considerado um planeta num sistema binário com a Terra apenas porque estava mais longe. Seria justo?
As questões são mais que muitas e os especialistas debateram-nas longamente. A que conclusão chegaram? O que é um planeta então?
Um planeta é um objecto que:

Orbite uma estrela
Tem que ser grande o suficiente para que a sua gravidade lhe confira uma forma esférica.
Não pode ter massa suficiente para ter fusão nuclear no seu núcleo (senão é uma estrela).
Tem que ser de longe o maior corpo na sua órbita.

Assim Plutão não é um planeta. Com a sua órbita radicalmente diferente dos 8 planetas, cruza a órbita de Neptuno e é este o maior corpo (de longe). Todos os objectos (como Plutão) que quase se ajustam a este definição são considerados planetas anões.

(Órbita de Plutão)

A discussão fica encerrada, pelo menos por enquanto, excepto se pensarmos em questões de senso-comum e astrológicas. Um corpo celeste é um corpo celeste e não muda, seja qual for o nome que lhe demos.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Big Trouble In Little China

É incrível pensar que já passaram vinte anos desde a estreia desde filme, mas As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim foi um dos meus filmes favoritos enquanto criança. Realizado por John Carpenter, é uma experiência fora do género de terror que o celebrizou, mas com elementos de fantástico. Não é um grande filme, não é um marco, a história é ridícula, não traz nada de novo e nem sequer foi um êxito de bilheteira, mas o seu humor, o seu imaginário mágico, as cores fortes e a sua acção clean, fizeram deste título uma referência de divertimento para mim, atingindo agora inclusive um estatuto de semi-cult movie (tal como muitas das películas do realizador). Revê-lo no Lusomundo Happy foi um regresso ao passado e uma viagem que vale sempre a pena.

quarta-feira, agosto 23, 2006


Falta apenas um mês...

Curiosidades de escala

terça-feira, agosto 22, 2006

Um ano


Fez no dia 9 deste mês um ano que nasceu este espaço. Sem pretensões e honestamente sem nenhum objectivo definido, tornou-se ao longo do tempo um local de conversa, desabafo, troca de ideias, encontros, tomadas de posição ou apenas um escape, uma forma de me expressar, de comunicar com outros. Já aqui tinha dito que escrever é uma forma de repensar as coisas, assim sendo este blog é para mim uma forma de enquadrar e reviver eventos que forma marcantes, mesmo que sempre limitados pelo facto de ser um relato público o que obriga às devidas reservas.
Dito isto há algo que, passados doze meses não consigo perceber: o que carga de água me estaria a passar pela cabeça para baptizar o blog como: "Sopros d'Improviso"? É dos nomes mais pirosos que me podiam passar pela cabeça, e com apóstrofo ainda por cima, apóstrofo!!!
Para remediar foi mudar o nome do blog apenas para sopros, não é grande coisa, mas pode-se dizer que estou numa fase de controlo de estragos...

Assim sem pompa nem circustância, nem jantar comemorativo e já com 13 dias de atraso, aqui fica assinalado o primeiro aniversário do sopros...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Tunísia

Os planos para o Verão não estavam feitos, quando vimos os preços que pediam para a Tunísia achámos ter encontrado a resposta, escolhemos e embarcámos certos de não encontrar nenhum paraíso perdido, mas pelo menos conseguir duas semanas de praia e descanso. Nada mais errado.
O presságio do que estava para vir começou logo no avião, com o comentário de um veraneante enquanto sobrevoávamos a Argélia: "Olha África! Vê lá se descobres aí o Liedson a correr!"
O hotel era o que se esperava, pagámos 3 estrelas tivemos 3 estrelas, o quarto era limpo, a comida razoável, as piscinas eram boas e a praia estava a 20 metros. Os problemas começaram com os animadores, o barulho ensurdecedor que se fazia sentir ininterruptamente de manhã à noite era insuportável. A música martelava a cabeça e não nos deixava descansar um momento que fosse. Só a partir das 19 se conseguia sequer ouvir o mar, porque tínhamos um parque aquático em frente ao hotel que seguia o mesmo esquema de música alta, portanto nem na praia estávamos safos. Percebemos por outras pessoas que era prática comum nos hotéis até de 4 estrelas.
Fartos fizemos uma excursão a Tunis, Cartago e Sidi Bou Said, passámos mais tempo no autocarro que nos sítios que vimos invariavelmente a correr em manada. O almoço que nos serviram era insuportável. A paisagem tunisina é horrível, o país parece um imenso bairro de lata, com casas sempre inacabadas, em cimento ou tijolo exposto, com ferros espetados para futuros acrescentos, sem arruamentos, muito pó e lixo, aos montes, em todo o lado, nas ruas, nos olivais, até nos cemitérios.
A consequência da viagem, da correria e do ar condicionado foi três dias de cama com uma constipação. Aí a música tornou-se um verdadeiro tormento e foi com alívio que vimos chegar a nossa segunda excursão de dois dias, ao deserto.
Nunca me senti tão aldrabado, tão intrujado, tão enganado e gozado em toda a minha vida. Do deserto nada se viu, um passeio de dromedário de uma hora revelou-se uma fraude, andámos dez minutos, os guias pararam deitaram-se no chão a fumar e a meter-se com as turistas, ficámos ali meia hora e voltámos para trás, no meio de dejectos e sacos de plástico.
Os sítios onde parámos pelo caminho (com excepção do coliseu romano em El Jem) eram buracos para turista, a brochura da excursão prometia coisas que não cumpria, os preços que nos cobravam nos locais para que éramos arrastados pelo guia turístico eram um roubo (5 dinares, ou seja 3 euros por um gelado estilo Perna de Pau é incrível mesmo que fosse no Chiado) e o hotel onde pernoitámos nessa saída roçava os limites da decência humana.
É um país de terceiro mundo já o sabíamos, mas o nível de aldrabice, de sujidade, de descaracterização que se encontra é além do que se podia esperar. Ser enganado propositadamente, chateado, impedido de descansar é inaceitável.
Tunísia nunca mais, praias no mundo há muitas...

sexta-feira, agosto 18, 2006

José Mário Branco

Gostei de ter nestas semanas música portuguesa a passar no blog. A minha escolha desta vez não será tão consensual como as últimas, mas José Mário Branco não é um artista consensual. Um dos grandes cantores de Abril, nunca virou cara à luta, denunciando constantemente as desigualdades, injustiças, abusos e vícios que observou ao longo da vida. Este tema- - extraído do album Correspondências de 1991 - é no entanto um dos mais pessoais, com o sub-nome Carta aos Meus Netos, é uma melodia terna, com uma letra de uma doçura extrema, de um homem que nunca se esqueceu de amar...

Voltei!

Já desde quarta feira, mas só volto ao trabalho na segunda. A descrição da viagem segue numa próxima postagem, mas fica já a dica, não recomendo a Tunísia a ninguém.
Antes de mais um mini-post a falar sobre o último filme que vi na noite anterior a viajar, a animação Over the Hedge, em português Pular a Cerca. Pelo que percebi já saiu das salas em Lisboa, pelo menos a versão original saiu de certeza. É pena, a Dreamworks, de onde sairam por exemplo AntZ e Shrek, volta a bater a Disney aos pontos. Pular a Cerca é o conto de meia dúzia das criaturas mais alucinadas e ternas de um bosque que acordam uma manhã de Primavera para perceber que o seu bosque fora reduzido a uma faixa de terreno rodeada de condominios suburbanos humanos. São ajudados por um guaxinim (raccoon em inglês) que tem segundas intenções. Apesar de ser, como sempre, um conto moral sobre o valor da amizade e da honestidade, está carregado de um humor complexo e foge às normas tradicionais deste tipo de histórias. Carregado de vedetas e com uma animação extraordinária é de longe mais completo e muito mais divertido que o seu rival de maior sucesso Cars.